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domingo, 7 de outubro de 2012

A Politicagem e os "Evangélicos"

Por Alberto Fragoso Dias Dantas


O papel da história, além de registrar os acontecimentos, deveria servir como placas sinalizadoras, orientando-nos com precisão até nosso destino. A história eclesiástica, em especial, é recheada de fatos negativos que envergonharia qualquer cristão. Poderíamos facilmente enumerar alguns: Reforma Protestante[1], Cruzadas, Inquisição, Holocausto[2] etc.

Parece que essa relação Igreja / Estado nunca fez bem ao povo, uma vez que usa-se o nome de Deus em vão para balizar as atrocidades praticadas pelo governo humano. Pune-se em nome de Deus, mata-se em nome de Deus, cobram-se impostos em nome de Deus etc. Vivenciamos apenas na teoria uma separação entre Estado e Igreja, mas na prática é outra conversa, apesar de proclamarmos que o Brasil é um país laico.

Em meio ao caos instaurado, devemos compreender qual é o papel da Igreja, bem como o papel do Estado como ente político, para podermos então, agir como seres políticos. Pois bem, o papel da Igreja, delineado no Novo Testamento é o de proclamar a justiça de Deus[3]. E tal justiça acontece quando amamos ao nosso próximo como a nós mesmos. Ou então, como Cristo nos amou[4]. Quando vestimos essa roupagem cristã, ficamos indignados com o status quo do nosso próximo, uma vez que este é criado à imagem e semelhança do nosso Deus. Isso fica nítido, quando pensamos nos desempregados, nos moradores de rua, nos viciados em drogas, álcool, fumo, jogos, nas mulheres que sofrem violência domestica, nos homossexuais agredidos e assassinados devido a sua preferência sexual, naqueles que não têm acesso à saúde pública básica, que não têm direito constitucional à educação, além daqueles que não têm o que comer. Assim pensando, constatamos que a Igreja está aquém dos objetivos bíblicos prescritos. O que vemos hoje é o seu papel reduzido aos cultos dominicais, mais parecendo um clube social que uma agência terrena do Reino de Deus (Ekklesia: chamados para fora).

Maquiavel, Locke, Hobbes e Rousseau, entre outros, discorreram sobre o papel do Estado. Mas ficaríamos anos discutindo qual a proposta que melhor define o tal papel entre esses teóricos. Seria um debate ad infinitum. Basicamente, o papel do Estado (estou partindo da premissa de Estado como um mecanismo jurídico) é o de fazer leis justas para o seu povo, de garantir educação, habitação, saúde, bem como proteger seus cidadãos. Porém, não estamos numa aula de Teoria Geral do Estado, muito menos de Ciência Política, e meu objetivo é leva-los a uma reflexão sobre essa relação Estado / Igreja e vice versa.

Sim, somos seres políticos, já dizia Aristóteles. E olhando para a Bíblia, vemos os profetas no Antigo Testamento desenvolvendo bem esse papel. O ofício profético era o de denúncia, pois podia constatar as injustiças sociais que o povo israelita passava. Como povo de Deus, não podemos viver à margem, muitos menos fazer “vistas grossas” para as mazelas que o povo vem sofrendo, temos que exercer o nosso papel como ser político. Porém, agir assim é ser político[5] e não politiqueiro[6]

Infelizmente, nas igrejas evangélicas, o que se vê é politicagem e não política. Candidatos sendo lançados para defender os interesses de uma igreja, de uma denominação. Porém, política é o ato de representar o povo e não um grupo específico. Sim, usam até texto bíblico fora de contexto. Por exemplo: “Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor!”. Além disso, franqueiam a palavra ao candidato em pleno “culto de adoração a Deus” e induz o povo a votar nele; faz-se vigílias em prol da candidatura do “político” etc. Aonde iremos parar! “Esse povo me honra com os lábios, mas o seu coração está distante de mim!”. “Vocês fizeram da casa de meu pai um covil de ladrões”. Frases do profeta Isaías e Cristo, mas bem atuais para os dias de hoje e perfeitamente aplicável à Igreja Politiqueira.

Por fim, as “igrejas evangélicas” adotam um discurso finalista para apoiar candidatos com passado comprometido com a justiça, os chamados “fichas sujas”[7]. Afinal, “os fins justificam os meios”. Não interessa se ele é ficha suja, ele é “nosso irmão em Cristo”. É similar a frase: “Corintiano vota em corintiano” e outras mais que encontramos no mundo politiqueiro. Contudo, o pior é, além de ser ficha suja ostentar o título de “Pastor”. Afinal, Paulo, o apóstolo da graça, define as qualificações para o ministério pastoral. Diz ele: “Esta afirmação é digna de confiança: Se alguém deseja ser bispo (pastor, bispo, presbítero: são sinônimos na língua grega), deseja uma nobre função. É necessário, pois, que o bispo / pastor / presbítero seja irrepreensível...” (cf. 1 Timóteo 3.1 e 2 NVI). Ou seja, íntegro, de quem não tem o que falar. Que não é o caso, basta acessar os link’s na nota de rodapé. Ou mesmo conferir as ocorrências em seu nome na Justiça e Tribunal de Contas[8].

Para que serve a história? Para não cairmos nas mesmas armadilhas do passado, correto? Parece-nos que não, pois assim como Hitler persuadiu o povo alemão a idolatrá-lo, bem como obedecer a seus comandos assassinos, vemos o mesmo acontecer em nossos dias. Afinal, líderes religiosos seduzem o seu rebanho usando a técnica da retórica, “enfeitiçando-os” por completo, para assim satisfazerem suas vontades. Para que serve a história?  Para lobos com pele de ovelha usar o nome de Deus, em nome de Deus e auferir os seus objetivos. Infelizmente! A única arma que temos para reverter esse quadro tenebroso é o voto. Por isso, faça valer o seu papel como cristão e cidadão.  Afinal, “quando os justos florescem / governam, o povo se alegra; quando os ímpios governam, o povo geme. (Provérbios 29.2 NVI)



[1] A história não pode ser resumida a Lutero, houve muito derramamento de sangue para o seu devido estabelecimento, uma vez que a questão do poder estava em jogo.

[2] No livro “A Cruz de Hitler”, Erwin Lutzer diz que “a Cruz de Cristo” dividia o altar com a bandeira com o “Símbolo da Suástica”. Na ocasião, 6 milhões de judeus tiveram suas vidas ceifadas.

[3] “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas (comer, beber e vestir – acréscimo meu) lhes serão acrescentadas”. (Mateus 6.33 NVI)

“Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos”. (Mateus 5.6 NVI)

[4] “Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros”. (João 13.34-35 NVI)

[5] Político: é o ato de representar o povo, lutar pelos interesses do povo.

[6] Politiqueiro: aquele que faz acordos milionários, troca de cargos, troca de apoios políticos e vários outros tipos de atos ilícitos que corrompem a política brasileira.

[8] Disponível em: http://www.excelencias.org.br/@candidato.php?cs=1&id=82522. Consultado em 02/10/2012 às 15h38.

2 comentários:

  1. Texto de conteúdo profundo e de fácil entendimento. Perfeito.

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  2. O autor desse artigo morou em Canindé há cerca de 20 anos (aqui conhecíamos pelo apelido de Lesma). Atualmente reside em São Paulo e é Pastor Evangélico. Acompanha mesmo de longe a história política desse município e ficou muito incomodado com a forma que os evangélicos estão sendo tratados nessa disputa eleitoral em Canindé, motivo que o levou a escrever esse artigo.

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