Por Alberto Fragoso Dias Dantas
O papel da história, além de
registrar os acontecimentos, deveria servir como placas sinalizadoras, orientando-nos
com precisão até nosso destino. A história eclesiástica, em especial, é recheada
de fatos negativos que envergonharia qualquer cristão. Poderíamos facilmente
enumerar alguns: Reforma Protestante[1], Cruzadas, Inquisição,
Holocausto[2] etc.
Parece que essa relação Igreja /
Estado nunca fez bem ao povo, uma vez que usa-se o nome de Deus em vão para
balizar as atrocidades praticadas pelo governo humano. Pune-se em nome de Deus,
mata-se em nome de Deus, cobram-se impostos em nome de Deus etc. Vivenciamos
apenas na teoria uma separação entre Estado e Igreja, mas na prática é outra
conversa, apesar de proclamarmos que o Brasil é um país laico.
Em meio ao caos instaurado,
devemos compreender qual é o papel da Igreja, bem como o papel do Estado como
ente político, para podermos então, agir como seres políticos. Pois bem, o
papel da Igreja, delineado no Novo Testamento é o de proclamar a justiça de
Deus[3]. E tal justiça acontece
quando amamos ao nosso próximo como a nós mesmos. Ou então, como Cristo nos
amou[4]. Quando vestimos essa
roupagem cristã, ficamos indignados com o status
quo do nosso próximo, uma vez que este é criado à imagem e semelhança do
nosso Deus. Isso fica nítido, quando pensamos nos desempregados, nos moradores
de rua, nos viciados em drogas, álcool, fumo, jogos, nas mulheres que sofrem
violência domestica, nos homossexuais agredidos e assassinados devido a sua
preferência sexual, naqueles que não têm acesso à saúde pública básica, que não
têm direito constitucional à educação, além daqueles que não têm o que comer.
Assim pensando, constatamos que a Igreja está aquém dos objetivos bíblicos
prescritos. O que vemos hoje é o seu papel reduzido aos cultos dominicais, mais
parecendo um clube social que uma agência terrena do Reino de Deus (Ekklesia: chamados para fora).
Maquiavel, Locke, Hobbes e
Rousseau, entre outros, discorreram sobre o papel do Estado. Mas ficaríamos
anos discutindo qual a proposta que melhor define o tal papel entre esses
teóricos. Seria um debate ad infinitum.
Basicamente, o papel do Estado (estou partindo da premissa de Estado como um
mecanismo jurídico) é o de fazer leis justas para o seu povo, de garantir
educação, habitação, saúde, bem como proteger seus cidadãos. Porém, não estamos
numa aula de Teoria Geral do Estado, muito menos de Ciência Política, e meu
objetivo é leva-los a uma reflexão sobre essa relação Estado / Igreja e vice
versa.
Sim, somos seres políticos, já
dizia Aristóteles. E olhando para a Bíblia, vemos os profetas no Antigo
Testamento desenvolvendo bem esse papel. O ofício profético era o de denúncia,
pois podia constatar as injustiças sociais que o povo israelita passava. Como
povo de Deus, não podemos viver à margem, muitos menos fazer “vistas grossas” para as mazelas que o
povo vem sofrendo, temos que exercer o nosso papel como ser político. Porém,
agir assim é ser político[5] e não politiqueiro[6].
Infelizmente, nas igrejas
evangélicas, o que se vê é politicagem e não política. Candidatos sendo
lançados para defender os interesses de uma igreja, de uma denominação. Porém,
política é o ato de representar o povo e não um grupo específico. Sim, usam até
texto bíblico fora de contexto. Por exemplo: “Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor!”. Além disso, franqueiam a
palavra ao candidato em pleno “culto de
adoração a Deus” e induz o povo a votar nele; faz-se vigílias em prol da
candidatura do “político” etc. Aonde
iremos parar! “Esse povo me honra com os
lábios, mas o seu coração está distante de mim!”. “Vocês fizeram da casa de meu pai um covil de ladrões”. Frases do
profeta Isaías e Cristo, mas bem atuais para os dias de hoje e perfeitamente
aplicável à Igreja Politiqueira.
Por fim, as “igrejas evangélicas” adotam um discurso finalista para apoiar
candidatos com passado comprometido com a justiça, os chamados “fichas sujas”[7]. Afinal, “os fins justificam os meios”. Não
interessa se ele é ficha suja, ele é “nosso
irmão em Cristo”. É similar a frase: “Corintiano
vota em corintiano” e outras mais que encontramos no mundo politiqueiro.
Contudo, o pior é, além de ser ficha suja ostentar o título de “Pastor”. Afinal, Paulo, o apóstolo da
graça, define as qualificações para o ministério pastoral. Diz ele: “Esta afirmação é digna de confiança: Se
alguém deseja ser bispo (pastor, bispo, presbítero: são sinônimos na língua
grega), deseja uma nobre função. É necessário, pois, que o bispo / pastor /
presbítero seja irrepreensível...”
(cf. 1 Timóteo 3.1 e 2 NVI). Ou
seja, íntegro, de quem não tem o que falar. Que não é o caso, basta acessar os
link’s na nota de rodapé. Ou mesmo conferir as ocorrências em seu nome na
Justiça e Tribunal de Contas[8].
Para que serve a história? Para
não cairmos nas mesmas armadilhas do passado, correto? Parece-nos que não, pois
assim como Hitler persuadiu o povo alemão a idolatrá-lo, bem como obedecer a
seus comandos assassinos, vemos o mesmo acontecer em nossos dias. Afinal, líderes
religiosos seduzem o seu rebanho usando a técnica da retórica,
“enfeitiçando-os” por completo, para assim satisfazerem suas vontades. Para que
serve a história? Para lobos com pele de
ovelha usar o nome de Deus, em nome de Deus e auferir os seus objetivos.
Infelizmente! A única arma que temos para reverter esse quadro tenebroso é o
voto. Por isso, faça valer o seu papel como cristão e cidadão. Afinal, “quando
os justos florescem / governam, o povo se alegra; quando os ímpios governam, o povo geme”. (Provérbios 29.2 NVI)
[1]
A história não pode ser resumida a Lutero, houve muito derramamento de sangue
para o seu devido estabelecimento, uma vez que a questão do poder estava em
jogo.
[2]
No livro “A Cruz de Hitler”, Erwin Lutzer diz que “a Cruz de Cristo” dividia o
altar com a bandeira com o “Símbolo da Suástica”. Na ocasião, 6 milhões de
judeus tiveram suas vidas ceifadas.
[3]
“Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas
essas coisas (comer, beber e vestir – acréscimo meu) lhes serão acrescentadas”.
(Mateus 6.33 NVI)
“Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça,
pois serão satisfeitos”. (Mateus 5.6 NVI)
[4]
“Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês
devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus
discípulos, se vocês se amarem uns aos outros”. (João 13.34-35 NVI)
[5]
Político: é o ato de representar o povo, lutar pelos interesses do
povo.
[6]
Politiqueiro: aquele que faz acordos milionários, troca de cargos, troca de apoios
políticos e vários outros tipos de atos ilícitos que corrompem a política
brasileira.
[7]
Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/caso-dos-sanguessugas-entra-para-a-rede-de-escandalos.
Consultado 20/09/2012 às 22h34.
Disponível em: http://pentecostalsergipe.blogspot.com.br/2012/08/blog-do-claudio-nunes_30.html.
Consultado em 02/10/2012 às 15h12.
Disponível em: http://g1.globo.com/politica/noticia/2011/02/pastor-heleno-prb-se.html.
Consultado em 02/10/2012 às 15h18.
Disponível em: http://congressoemfoco.uol.com.br/sanguessugas/sanguessugas-39-acusados-por-cpi-sao-candidatos/.
Consultado em 02/10/2012 às 15h23.
[8]
Disponível em: http://www.excelencias.org.br/@candidato.php?cs=1&id=82522.
Consultado em 02/10/2012 às 15h38.
Texto de conteúdo profundo e de fácil entendimento. Perfeito.
ResponderExcluirO autor desse artigo morou em Canindé há cerca de 20 anos (aqui conhecíamos pelo apelido de Lesma). Atualmente reside em São Paulo e é Pastor Evangélico. Acompanha mesmo de longe a história política desse município e ficou muito incomodado com a forma que os evangélicos estão sendo tratados nessa disputa eleitoral em Canindé, motivo que o levou a escrever esse artigo.
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