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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A favor da Honestidade III


Denisson Santos

Charge de autor desconhecido.




Ao falar de honestidade, é fato que para construir um nome são necessários vários atos honestos em um caráter bem construído. Contudo, basta apenas um ato desonesto ou desleal para que esse mesmo nome seja destruído.

A morte de José Wellington Fernandes, o nosso Cazuza, ainda permanece envolta em controvérsias mesmo tendo já passado mais de dez anos. Isso ocorre devido ao complicado jogo de poder que existia na região na época do crime.

O advogado de Zé de Adolfo, condenado como o executor do assassinato, acusou ainda de envolvimento no crime a pessoa que disse ter vendido a arma para o assassino. Ele seria um ex-vigia de Luiz Eduardo de Oliveira Costa. "Pedi a arma para verificar o histórico, mas ela desapareceu. Há um interesse em manter o inquérito da morte de Cazuza como está, para promover uma mudança política em Canindé", diz o advogado Tenório. Ele citou outros fatores que, a seu ver, provam a existência de um complô para incriminar o ex-prefeito.

"O delegado Jocélio, afastado de seu cargo, disse que houve uma reunião da cúpula da polícia para direcionar o caso contra Galindo. Eles pensaram: vamos pegar Zé de Adolfo, porque é alcoólatra e vai confessar. O próprio cunhado de Cazuza falou que o relacionamento do radialista era excelente com Galindo, mas não com Luiz Eduardo". 

De fato, no inquérito consta também o nome de Jorge Moreira dos Santos como o de um cunhado de Cazuza que viveria com sua irmã Josefa Vânia da Silva. Santos declarou à polícia, em dezembro de 2000, que uns 15 dias antes de morrer, Cazuza andava desconsolado e chorando muito porque não podia ficar ao lado do prefeito por imposição da rádio. Cazuza teria dito ao cunhado que estava com medo, sem mencionar do quê. Nem Meire Fernandes de Lima, a irmã mais próxima de Cazuza, nem João Santana Pinheiro, irmão por parte de pai, confirmam conhecer Santos ou Josefa. "Essa pessoa deve estar ganhando algo de Galindo para dizer isso", observou Meire.

O relacionamento de Luiz Eduardo de Oliveira Costa, dono da Rádio Xingó FM, com Galindo, antes do crime, variava conforme os interesses políticos. Quando o então prefeito foi preso em flagrante, em Feira de Santana, na Bahia, em julho de 1999, acusado de posse ilegal de armas de uso exclusivo das Forças Armadas, Costa interveio para soltá-lo. Na ocasião foram encontrados com Galindo e seus homens que o acompanhavam três metralhadoras, pistolas 9 mm e revólveres calibre 38. Nenhuma dessas armas estava registrada. Costa disse que, como tinha um bom relacionamento com Galindo e com o governador Albano Franco, telefonou para o chefe de governo estadual e pediu que recebesse os filhos do prefeito. "O governador disse que já sabia e que ia encaminhar o caso para a Secretaria de Segurança Pública", lembrou.

No dia em que Cazuza morreu, Costa foi para a rádio e disse que Canindé deveria sofrer uma intervenção. Depois, entregou um dossiê ao Ministério Público com denúncias de irregularidades cometidas pelo prefeito e seus assessores. "Não denunciei Galindo antes porque não tinha os elementos necessários. Além disso, até a primeira administração do prefeito, ele estava melhorando a educação, mas em seguida trouxe uma quadrilha de fora e começou a abandonar o município", observa o jornalista.  O proprietário da Rádio Xingó FM rebate as acusações de que tinha interesse na morte de Cazuza e que o radialista andava descontente com atrasos de salário. "Ele era como um filho" lembra Costa. 

Mas graças à repercussão causada pelo assassinato de Zezinho Cazuza, Canindé de São Francisco viu-se subitamente no noticiário nacional, e isso permitiu desvendar uma série de falcatruas e rombos financeiros, que somam cerca de R$ 50 milhões (cerca de US$21.000.000). Deste total, pelo menos 70% foram gastos quando Genivaldo Galindo da Silva era prefeito da cidade, segundo os cálculos dos auditores. 

Entre as irregularidades constatadas pelo Tribunal de Contas estão: empréstimos por antecipação de receita; licitações favorecendo empresas sem registro, beneficiando amigos ou o próprio prefeito; adulteração de notas fiscais; contratação de uma cooperativa prestadora de serviços em que os cooperados recebiam pelo trabalho sendo também funcionários públicos; doação de imóveis a particulares e aquisição dos mesmos, depois, por valores maiores; além de serviços de engenharia prestados por uma funerária.

Enfim, entre mortos e feridos, salvaram-se aqueles que tem dinheiro e influências. Hoje vê-se que aqueles que já trocaram sérias acusações estão juntos e com o objetivo de governar Canindé, assim como já estiveram em outros carnavais. Resta-nos saber quem se propõe a ser o novo ‘Cazuza’, ou o novo ‘Zé de Adolfo’.


Adaptado de Proyecto Impunidad.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A favor da Honestidade II

Denisson Santos




Charge de autor desconhecido




Há uns 16 anos, Canindé de São Francisco era apenas mais um povoado na beira do Rio São Francisco, cercado de vegetação da caatinga. A população vivia basicamente da pesca, da caça e da criação de gado. Em 1987, começou a ser construída a Usina de Xingó - considerada uma das maiores do Brasil. As obras atraíram milhares de trabalhadores que se incorporaram à população original da cidade. Os forasteiros que chegavam para construir a usina transformaram a paisagem de pobreza do sertão em uma de desenvolvimento aparente.

Foi nesse período que o empresário Genivaldo Galindo da Silva chegou a Canindé de São Francisco. Natural de Pernambuco, ele se instalou em Sergipe com uma empresa de locação de carros, trabalhando na obra da construção da usina para as empreiteiras. Tinha negócios também na Bahia. Passado algum tempo, foi candidato à prefeitura, perdeu a primeira eleição, até finalmente conseguir se eleger por dois mandatos.

A disputa pelo poder em Canindé de São Francisco sempre esteve associada a registros policiais e à impunidade. Um dos líderes locais, Delmiro Miranda de Brito, que havia assumido a Prefeitura em 1992, foi encontrado morto em seu carro, em maio de 1993. O inquérito policial para apurar se foi realmente um acidente continua sem conclusão, e há fortes suspeitas de que alguém tenha encomendado sua morte.

Até hoje não foram punidos os responsáveis pela chamada Chacina de Canindé, em 20 de janeiro de 1995. Foram mortos Ademar Rodrigues de Assis, então presidente da Câmara de Vereadores, seu segurança, um mecânico e uma outra pessoa que estava em sua companhia. 

Outra morte suspeita, em fevereiro de 2000, foi a de Maria Paulina dos Santos, 33 anos, grávida, que seria candidata a vice-prefeita de Canindé na chapa do ex-prefeito Jorge Luiz de Carvalho. Ela retornava de sua fazenda em Alagoas, quando seu carro teria derrapado e caído num abismo de 30 metros. Existem suspeitas de assassinato. 

Na luta pelo poder, os meios de comunicação geralmente são usados como uma ferramenta para apoiar ou destruir políticos. Sobretudo as rádios servem de palanque para futuros candidatos a cargos públicos - incluindo os próprios jornalistas e radialistas. Estes utilizam os meios de comunicação para fazer carreira política e acabam perdendo o parâmetro da responsabilidade do bom jornalismo.

Cabe assim à juventude, com sua visão crítica, abrir os olhos dos mais ingênuos. Garantir que o futuro de nossa cidade não seja entregue ao passado. Que em nossas mãos estejam as decisões e das nossas cabeças saiam as ideias para o bem dos nossos, do povo canindeense. Especialmente, fazer com que os esforços de alguns 'jornalistas' para iludir os menos favorecidos com falsas verdades sejam em vão.


Adaptado de Proyecto Impunidad

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A favor da Honestidade I




Charge de autor desconhecido.


Cazuza apresentava um programa de rádio diário, o "Cheiro de Mato", das 5h às 8h na rádio Xingó FM. No primeiro ano do programa, apresentou basicamente músicas sertanejas. Depois, começou a apresentar temas políticos. O programa tinha a participação do deputado Albérico Cordeiro, de Alagoas, que ligava de Brasília para passar notícias. Nos últimos meses de vida, o radialista passou a fazer críticas à administração municipal. A Prefeitura era o maior anunciante da rádio - até o assassinato de Cazuza.

O radialista chegou a ser suspenso por alguns dias por causa de uma discussão com o então prefeito Galindo, no estúdio da rádio, em fevereiro de 2000, um mês antes de sua morte. Galindo estava no ar, falando num espaço de entrevista pago pela Prefeitura para divulgação de suas atividades. Em seu programa, Cazuza havia acusado o prefeito de distribuir camisetas com o número 45, do partido de Galindo, PSDB, associado ao carnaval da cidade. Ele também fez reiteradas denúncias sobre o recadastramento irregular de eleitores pela Prefeitura.

No dia da discussão na rádio, Galindo respondia às acusações sobre irregularidades feitas pelo radialista. Cazuza invadiu o estúdio durante o programa e disse: "Prefeito, o senhor está mentindo". Conforme testemunhas, Galindo chamou o radialista de "maconheiro e homossexual", disse para se retirar e que acabaria de falar com ele fora do ar. Para seus assessores, teria dito que, se não fosse prefeito, matava Cazuza naquele dia mesmo. Desde então o relacionamento de Galindo e Cazuza desandou de vez. Numa cidade pequena como Canindé, com cerca de 17 mil habitantes à época, ser tachado de homossexual e acusado de usar drogas é motivo de fofocas e vergonha. Em cidades como a nossa, pouca gente fala sobre o assunto, e quando fala é com certo tom de preconceito.

Cazuza foi suspenso, em princípio, por 30 dias pela direção da emissora. No quinto dia essa suspensão foi revogada, segundo relatou o jornalista Luiz Eduardo de Oliveira Costa, proprietário da rádio e hoje membro da coligação integrada por Galindos e CIA.

 A reprodução da discussão entre Cazuza e Genivaldo Galindo consta no inquérito que apurou o crime, como uma prova da ameaça pública feita pelo prefeito contra o radialista. A fita com a gravação não está mais disponível na Rádio Xingó FM, explicou então o diretor da emissora, Paulo Costa Neto, filho do proprietário, porque as cópias existentes foram repassadas para a polícia e para rádios e emissoras de televisão locais na época da morte do radialista.

A briga pública dos dois, meses antes, seria inconcebível. Cazuza vivia com Galindo para cima e para baixo. Era o locutor oficial da Prefeitura, contam os amigos. Após o crime, o proprietário da Rádio Xingó FM, Luiz Eduardo de Oliveira Costa, entregou ao Ministério Público uma série de denúncias contra o então prefeito Galindo.

Em sua coluna dominical no Jornal da Cidade, de Aracaju, Costa já vinha fazendo críticas à administração municipal de Canindé. Sua mulher, Eliane Moura Moraes, foi lançada candidata à vice-prefeita da cidade, na chapa com o candidato a prefeito Orlando Andrade (na época, vice de Galindo). O apoio à candidatura de Eliane pode ter sido o motivo pelo qual Cazuza acabou se afastando politicamente de Galindo e direcionando ao prefeito suas críticas na rádio. Costa disse que não, que a candidatura da mulher foi lançada depois da morte de Cazuza, para se contrapor ao poder de Galindo. Contraposição tal que hoje se transformou em apoio falado, escrito e praticado.

Na madrugada em que foi assassinado, o radialista voltava de uma festa em comemoração aos quatro anos de fundação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). No dia anterior, havia acompanhado uma caminhada dos sem-terra de Poço Redondo, cidade vizinha, até Canindé. Depois, foi até a casa de Luiz Eduardo de Oliveira Costa. "Antes de sair, Cazuza ainda brincou que ia assinar uma carta usando meu sobrenome e o de minha mulher, porque se considerava da família", relatou Costa. A carta era sobre as pichações "Cazuza 2000", feitas em muros da cidade - em alusão a sua candidatura a vereador. No documento, dizia ao juiz que as pichações haviam sido feitas por desconhecidos e que seriam apagadas.

Costa pediu a Cazuza que não fosse à festa à noite, onde deveriam estar o prefeito e seus assessores, e mandou o gerente da rádio levá-lo até sua casa. Costa disse que temia pela segurança do radialista porque várias pessoas ligadas ao prefeito andavam espalhando que, depois do carnaval, iam "fazer a festa deles". "Eu tinha medo que Cazuza fosse agredido, mas não morto", relatou.

Costa acredita que a morte de Cazuza, indiretamente, visava intimidá-lo. "Pensaram que matando Cazuza eu sairia correndo da cidade. Não podiam me matar, porque eu tinha muitas ligações políticas, inclusive com o governador - meu pai e o dele trabalharam juntos -, e a repercussão seria maior".

Até o início dessa década Costa se considerava ameaçado pelos atos de Genivaldo Galindo. Hoje, ambos levantam a mesma bandeira em prol de uma candidatura que reúne gregos, troianos e atenienses. Esse milk-shake de ideologias e caráteres tão distintos, mas que ao mesmo tempo tão semelhantes é que faz por em dúvida a integridade moral e administrativa de um eventual governo realizado pela oposição. Afinal, a sabedoria popular já defende que aquele que com porcos se junta, farelos comem.


Adaptado de 'Proyecto Impunidad'.



quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Novos Integrantes

Por Roberto França e Bruno Fernandes




A partir de hoje, o blog ‘A Voz da Juventude’ conta com mais dois novos integrantes. O objetivo é trazer mais conteúdo agregado com novas idéias e pontos de vista diferentes, fazendo assim o blog crescer e envolver cada leitor que nos acompanha. Estamos aceitando sugestões, o espaço é democrático e a nossa vontade é que todos participem.

Os nossos dois novos integrantes são Bruno Fernandes e Roberto França, que são jovens filhos da nossa Canindé e no momento estão residindo em Aracaju. Bruno Fernandes tem 17 anos, estuda no Instituto Federal de Sergipe, está cursando o 3º ano do Ensino Médio e o Ensino Técnico no curso de Química. Roberto França tem 16 anos, no momento está cursando o 3º ano do Ensino Médio no Colégio Amadeus.






No mais, é contar com o apoio de todos vocês e esperamos que gostem. Podemos adiantar que mais novidades vêm por ai.




Contatos:
Bruno Fernandes:


Roberto França:



quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Proselitismo ético


por Denisson Santos





Desde o início do período eleitoral pelo qual passamos, duas expressões costumam persistir na minha mente. Ética e proselitismo político. A primeira é tão famosa quanto os escândalos de corrupção em Brasília. Ela consiste no conjunto dos valores morais que orientam o comportamento humano. A segunda, por sua vez, causa estranheza aos ouvidos menos atentos. Seu conceito está em empenhar-se de maneira ativista a converter pessoas em favor de uma determinada causa política.

Em Canindé de São Francisco, sob o pretexto de anunciar as falhas da atual administração e buscar melhorias para a população que ainda carece em alguns aspectos, determinados senhores intitulados de jornalistas esquecem descaradamente os princípios que norteiam o dom de quem escreve. O ‘jornalismo blogueiro’ em nosso município tem armado disparates disfarçados sob o nome de notícia para manipular o leitor menos crítico.

A tentativa de destruição da reputação do candidato a prefeito Ednaldo da Farmácia e de sua campanha é algo recorrente em vários escritos publicados recentemente no município. Publicações essas realizadas por ‘jornalistas’ que se dizem preocupados com o bem comum. Entretanto, esses mesmos ‘jornalistas’ não tem demonstrado o menor esforço em esclarecer a população quanto aos escândalos de corrupção nos quais estão envolvidos os candidatos da oposição. Também nunca escreveram nada que ao menos citasse a relação entre a Lei da Ficha Limpa e a possível e justa invalidez das candidaturas oposicionistas. Assim, não divulgando todos os fatos de interesse público, como deveriam por obrigação moral.

A credibilidade desses ‘jornalistas’ ao publicar seus escritos é mínima ou mesmo inexistente, pois não honram, valorizam ou dignificam o código de ética a quem devem respeito. Ao utilizar a mídia escrita para o benefício do interesse próprio, negam voz e vez à população.

“A ética deve acompanhar sempre o jornalismo, assim como o zumbido acompanha o besouro.” (Gabriel García Márquez)

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Brava Gente Brasileira





“Agentes públicos que se deixam corromper e particulares que corrompem são, corruptos e corruptores, os profanadores da República, os subversivos da ordem institucional, os delinquentes, os marginais da ética do poder”. As palavras do Ministro do Supremo Tribunal Federal – STF, Celso de Mello, resumem a indignação geral do povo brasileiro com a corrupção ainda reinante na administração do dinheiro público. Elas representam a evolução no tratamento destinado aos corruptos, sobretudo os políticos, dando-nos motivos para comemorar os 190 anos da proclamação de independência.

Exatamente há um ano, o Congresso Nacional absolvia a deputada Jaqueline Roriz. Flagrada recebendo dinheiro do chamado mensalão do DEM de Brasília, não recebeu punição alguma. Aliás, após receber a absolvição do Conselho de Ética da Câmara, ela foi convidada a integrar a Comissão de Revisão de Normas do Código Civil Brasileiro. O fato dispensa comentários.

Parafraseando o ilustre sergipano Ayres Britto que, por sua vez, citou o padre Antônio Vieira, “o avanço no patrimônio público e o fazer do patrimônio público um prolongamento da casa, da copa, da cozinha são coisas antigas neste Brasil”. Porém, os tempos são outros. Para o bem do povo e felicidade geral da Nação, o STF começa a fazer história ao apontar o fim da impunidade para quem rouba o bem público. Cinco dos 37 acusados a participar do maior escândalo de corrupção da história política do país já foram condenados. O milhão de assinaturas que fizeram ser aprovada a Lei da Ficha Limpa espera que os outros 189 milhões de brasileiros a façam valer.

Os jovens de Canindé de São Francisco, sobretudo, torcem para que toda a sociedade canindeense faça valer essa lei. Mesmo temporariamente liberados pela justiça, que os candidatos fichas-sujas sejam derrotados pela memória do povo, nas urnas. Pois não existe pessoa mais indigna de cargo público que aquela que rouba de seu próprio povo. A cada desvio de dinheiro público mais uma criança passa fome, mais uma escola fica sem merenda, mais uma localidade sem saneamento, sem mais um hospital, sem ambulâncias.

"Acreditávamos que tínhamos conquistado a independência, mas não tínhamos. A mesma corrupção, o mesmo saque, o mesmo terror estão aí." 
Anna Hazare

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Futuro roubado, mas devolvido.

Ao pesquisar sobre as falcatruas promovidas por antigos prefeitos em Canindé de São Francisco, um amigo me enviou uma matéria da revista ISTOÉ. Assinada pelo jornalista Mário Simas, ela foi publicada em 5 de julho de 2000, na edição 1606. Ali podemos notar a situação caótica em que o nosso município vivia, fazendo comparações com a realidade atual. Chama-nos atenção, porém, as críticas registradas pelo jornalista Luiz Eduardo Costa. O mesmo que, atualmente, compartilha do mesmo palanque político que aqueles a quem criticou. De fado, a ganância pelo poder ainda vale muito para alguns.

Abaixo segue transcrita a reportagem.


Futuro roubado

Ou o Brasil acaba com a corrupção ou a corrupção acaba com o Brasil. É o que mostra o uso do dinheiro público em duas cidades do Nordeste.



Mario Simas


Canindé de São Francisco, em Sergipe, tem cerca de 15 mil habitantes. Em Paulo Afonso, na Bahia, vivem aproximadamente 150 mil pessoas. As cidades são vizinhas e, por causa das usinas hidrelétricas de Xingó e de Paulo Afonso, arrecadam mensalmente R$ 2,8 milhões, em média, cada uma. Em Canindé, falta lousa e até parede nas escolas. Em salas de pau-a-pique, sem luz, misturam-se, no mesmo horário, alunos da primeira, segunda e terceira séries. Em Paulo Afonso, as escolas rurais são equipadas com ar-condicionado e onde não há luz elétrica a prefeitura capta energia solar. O prefeito de Canindé, Genivaldo Galindo da Silva (PSDB), é acusado de desviar dinheiro público e de contratar um pistoleiro para matar o radialista que denunciava suas falcatruas. Em Paulo Afonso, o prefeito Paulo Roberto de Deus (PFL), investe em educação 25% do orçamento. A comparação entre esses dois municípios do sertão mostra, na prática, como os efeitos da corrupção atingem a população e até a perspectiva de futuro.Os 15 mil moradores de Canindé de São Francisco deveriam viver como brasileiros de primeira classe. A divisão da receita municipal pelo número de habitantes indica que cada família com cinco pessoas poderia receber quase R$ 1 mil por mês, quantia bem superior à renda per capita mensal do brasileiro, em torno de R$ 700. A vida em Canindé, porém, está longe de ser sequer razoável. Mais da metade da população depende do alistamento nas Frentes de Trabalho, com remuneração de R$ 56 mensais. O centro de saúde está praticamente fechado e o investimento público na educação é zero. No Povoado do Faixa, uma vila localizada a 20 minutos do centro, a escola Nova Iguaçu é uma varanda anexa a um bar. Erivan Santos é o professor e dono do bar. Ele leciona ao mesmo tempo e no mesmo lugar para 25 crianças da primeira, segunda e terceira séries. A escola não tem paredes e um pedaço de madeira com 60 centímetros de comprimento faz as vezes de lousa. Quando chove as crianças são levadas para o bar, onde se acomodam sobre duas velhas mesas de sinuca. “Não tinha escola por aqui e resolvi ajudar essas crianças”, conta Erivan, que recebe R$ 150 por mês da prefeitura.


No povoado Olho D’água, a escola não tem luz elétrica e funciona em um dos cômodos de um casebre de pau-a-pique. A sala, sem janela, tem oito metros quadrados e para chegar à escola algumas crianças caminham cinco quilômetros, embora o governo federal mantenha em Canindé uma van Topic para o transporte dos alunos. No início de junho, ISTOÉ constatou que a prefeitura usava o carro para fazer o cadastramento dos lugares onde serão instaladas as urnas eletrônicas para as próximas eleições municipais. “Esta cidade não precisa de recursos federais e estaduais. O problema de Canindé é a corrupção”, diz o deputado estadual Gilmar Carvalho (PT).


A cidade de Paulo Afonso, com a mesma receita e dez vezes mais habitantes do que Canindé, tem 75 escolas e cerca de 17 mil alunos na rede municipal. A Escola Rita Gomes de Sá, na vila Malhada Grande, na zona rural, tem seis salas de aula, refeitório, câmara frigorífica para armazenamento da merenda, cozinha industrial e um auditório equipado com ar-condicionado, televisão a cabo e videocassete. “As 50 escolas rurais são exatamente iguais”, diz a secretária de Educação, Maria Lúcia Cabral. Para reformar e equipar cada uma dessas escolas, a prefeitura investiu R$ 120 mil. Na escola da Vila do Papagaio o investimento foi de aproximadamente R$ 300 mil. Como não há energia elétrica na região, o prefeito instalou um captador de energia solar e hoje há até ar-condicionado nas salas de aula. No centro da cidade, um antigo sanitário público foi reformado e abriga a Escola Municipal de Informática, equipada com 41 computadores. Dali, saem 624 alunos por ano.


Corrupção e assassinato – A explicação para a desigualdade entre as duas cidades pode estar no Ministério Público de Sergipe. As denúncias contra o prefeito Galindo são tão volumosas quanto o seu salário de R$ 18 mil, três vezes maior do que o do prefeito de São Paulo. Uma das acusações envolve a Cooperativa Prestadora de Serviços de Sergipe, empresa criada em 1997, que nunca teve um único cliente antes de assinar um contrato com a prefeitura no valor anual de R$ 6 milhões. Todos os meses, a cooperativa emite notas fiscais e recebe até R$ 500 mil da prefeitura. Entre os prestadores de serviços estão de varredores de rua até veterinários. “O problema é que nunca esses profissionais são vistos na cidade”, diz o empresário Luiz Eduardo Costa, proprietário da rádio Xingó FM, em Canindé.



Outra irregularidade é o aluguel, por R$ 28 mil mensais, de 14 Kombis da Locaju, empresa com sede na rua Santa Luzia, 26, em Aracaju. ISTOÉ foi ao local e encontrou uma sala vazia. Na lista telefônica de Sergipe, no endereço da Locaju consta o nome de Francisca Cilene Galindo, mulher do prefeito de Canindé. Apenas com o dinheiro pago à Cooperativa e à Locaju, o prefeito tucano poderia construir em Canindé, mensalmente, quatro escolas como as de Paulo Afonso. “Já temos as assinaturas necessárias para iniciar uma CPI, pois não é possível que a corrupção continue a reinar”, diz o deputado Carvalho, que só se desloca a Canindé com proteção policial.



As preocupações do deputado têm sentido. A folha de antecedentes do prefeito Galindo registra prisão por porte de armas contrabandeadas e processos por ameaça de morte. Em março, ele disse em público que mataria o radialista Zezinho Cazuza, que diariamente denunciava as falcatruas promovidas pela prefeitura. No dia 13, depois de sair de uma festa, Zezinho foi assassinado com um tiro de escopeta. Dois dias depois, a polícia prendeu o tratorista José Ferreira Melo, conhecido como Zé de Adolfo. Ele confessou o assassinato, entregou a arma do crime e disse ter feito tudo por ordem do prefeito. “O doutor Galindo prometeu me pagar R$ 3 mil para matar o Zezinho Cazuza. Na hora me deu R$ 500 e eu fiz o serviço. Foi fácil”, afirmou Zé de Adolfo a ISTOÉ. “Com os R$ 500, comprei a arma e troquei dois pneus do meu carro. Ele ainda tem que me pagar R$ 2,5 mil.” Na primeira semana de junho, a polícia e o Ministério Público colocaram Zé de Adolfo e Galindo frente a frente. O tratorista-pistoleiro foi enfático ao reafirmar que fora contratado para matar o radialista.