Denisson Santos
Charge de autor desconhecido. |
Ao
falar de honestidade, é fato que para construir um nome são necessários vários
atos honestos em um caráter bem construído. Contudo, basta apenas um ato
desonesto ou desleal para que esse mesmo nome seja destruído.
A
morte de José Wellington Fernandes, o nosso Cazuza, ainda permanece envolta em
controvérsias mesmo tendo já passado mais de dez anos. Isso ocorre devido ao complicado
jogo de poder que existia na região na época do crime.
O
advogado de Zé de Adolfo, condenado como o executor do assassinato, acusou
ainda de envolvimento no crime a pessoa que disse ter vendido a arma para o
assassino. Ele seria um ex-vigia de Luiz Eduardo de Oliveira Costa. "Pedi
a arma para verificar o histórico, mas ela desapareceu. Há um interesse em
manter o inquérito da morte de Cazuza como está, para promover uma mudança
política em Canindé", diz o advogado Tenório. Ele citou outros fatores
que, a seu ver, provam a existência de um complô para incriminar o ex-prefeito.
"O
delegado Jocélio, afastado de seu cargo, disse que houve uma reunião da cúpula
da polícia para direcionar o caso contra Galindo. Eles pensaram: vamos pegar Zé
de Adolfo, porque é alcoólatra e vai confessar. O próprio cunhado de Cazuza
falou que o relacionamento do radialista era excelente com Galindo, mas não com
Luiz Eduardo".
De
fato, no inquérito consta também o nome de Jorge Moreira dos Santos como o de
um cunhado de Cazuza que viveria com sua irmã Josefa Vânia da Silva. Santos
declarou à polícia, em dezembro de 2000, que uns 15 dias antes de morrer,
Cazuza andava desconsolado e chorando muito porque não podia ficar ao lado do
prefeito por imposição da rádio. Cazuza teria dito ao cunhado que estava com
medo, sem mencionar do quê. Nem Meire Fernandes de Lima, a irmã mais próxima de
Cazuza, nem João Santana Pinheiro, irmão por parte de pai, confirmam conhecer
Santos ou Josefa. "Essa pessoa deve estar ganhando algo de Galindo para
dizer isso", observou Meire.
O
relacionamento de Luiz Eduardo de Oliveira Costa, dono da Rádio Xingó FM, com
Galindo, antes do crime, variava conforme os interesses políticos. Quando o
então prefeito foi preso em flagrante, em Feira de Santana, na Bahia, em julho
de 1999, acusado de posse ilegal de armas de uso exclusivo das Forças Armadas,
Costa interveio para soltá-lo. Na ocasião foram encontrados com Galindo e seus
homens que o acompanhavam três metralhadoras, pistolas 9 mm e revólveres calibre
38. Nenhuma dessas armas estava registrada. Costa disse que, como tinha um bom
relacionamento com Galindo e com o governador Albano Franco, telefonou para o
chefe de governo estadual e pediu que recebesse os filhos do prefeito. "O
governador disse que já sabia e que ia encaminhar o caso para a Secretaria de
Segurança Pública", lembrou.
No
dia em que Cazuza morreu, Costa foi para a rádio e disse que Canindé deveria
sofrer uma intervenção. Depois, entregou um dossiê ao Ministério Público com
denúncias de irregularidades cometidas pelo prefeito e seus assessores.
"Não denunciei Galindo antes porque não tinha os elementos necessários.
Além disso, até a primeira administração do prefeito, ele estava melhorando a
educação, mas em seguida trouxe uma quadrilha de fora e começou a abandonar o
município", observa o jornalista. O proprietário da Rádio Xingó FM rebate as
acusações de que tinha interesse na morte de Cazuza e que o radialista andava
descontente com atrasos de salário. "Ele era como um filho" lembra
Costa.
Mas
graças à repercussão causada pelo assassinato de Zezinho Cazuza, Canindé de São
Francisco viu-se subitamente no noticiário nacional, e isso permitiu desvendar
uma série de falcatruas e rombos financeiros, que somam cerca de R$ 50 milhões
(cerca de US$21.000.000). Deste total, pelo menos 70% foram gastos quando
Genivaldo Galindo da Silva era prefeito da cidade, segundo os cálculos dos
auditores.
Entre
as irregularidades constatadas pelo Tribunal de Contas estão: empréstimos por
antecipação de receita; licitações favorecendo empresas sem registro,
beneficiando amigos ou o próprio prefeito; adulteração de notas fiscais;
contratação de uma cooperativa prestadora de serviços em que os cooperados
recebiam pelo trabalho sendo também funcionários públicos; doação de imóveis a
particulares e aquisição dos mesmos, depois, por valores maiores; além de
serviços de engenharia prestados por uma funerária.
Enfim,
entre mortos e feridos, salvaram-se aqueles que tem dinheiro e influências.
Hoje vê-se que aqueles que já trocaram sérias acusações estão juntos e com o
objetivo de governar Canindé, assim como já estiveram em outros carnavais.
Resta-nos saber quem se propõe a ser o novo ‘Cazuza’, ou o novo ‘Zé de Adolfo’.